domingo, 3 de maio de 2015

Uma queda, uma dor, um pensamento


Numa quarta-feira dessas da vida passei pelo meu primeiro, e espero que único, acidente de bicicleta. Em 22 anos de vida nunca tinha sido atropelado por um carro, até mesmo porque na maioria do tempo estou dirigindo um. Graças a Deus não me aconteceu nada grave, só uma dor muscular, uma pequena feridazinha no dedo e a insistente vontade de escrever uma carta para o então prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio. Para deixar-lhe ciente de que uma cidade que incentiva a mobilidade urbana através do sistema de bicicletas compartilhadas merece todo o apoio da população, mas que se essa mesma cidade não realizar uma mudança significativa em sua estrutura para que o ciclista possa andar de certa forma tranquilo por ela, todo esse esforço será em vão. Tudo isso só para dizer que a Av. Santos Dumont NÃO POSSUI ciclofaixa oposta que volte em direção ao centro de Fortaleza. Essa foi a queda. Já a dor...

A dor não foi a muscular, foi no coração. Uma prima muito querida foi diagnosticada com câncer há alguns anos, depois de uma luta árdua e incessante para reverter seu quadro e curar-se do câncer, ele venceu. Alastrou-se pelo corpo dela, as famosas metástases, o que tornou inviável sua remoção e agora ela descansa em definitivo. A dor é mais pela impotência que temos sobre doenças assim, do que perdê-la, o que também dói muito. O fato é: ela fez parte da minha infância, tem culpa por eu estar vivo, e dela tenho tantas boas lembranças que fica difícil aceitar sua partida. Durante o começo da minha vida, enquanto estava muito doente, há vinte anos atrás, ela acolheu a mim e a minha mãe em sua casa, para que nós ficássemos, durante o período da cirurgia. Na minha estadia em sua casa, tive momentos impares. Minha primeira ida ao zoológico de São Paulo, minha primeira viajem de metrô, minha primeira viagem pra fora do Ceará e por último, aqui no Ceará, minha ida a Jericoacoara. Todos mágicos, todos fortes, todos para sempre. É impossível não me emocionar com essas lembranças. Contudo, elas serão muito mais fortes que sua partida.



Depois disso tudo me vem o pensamento à mente de que a vida deve ser vivida, sem métricas, sem tempo, aproveitada em cada detalhe, em cada momento. Eu poderia muito bem ter ido na quarta-feira, após meu breve acidente, como poderá demorar anos para que isso aconteça. O importante é que não tinha parado para perceber que venho levando minha vida num meio termo. Tomando meu remédio para pressão, indo trabalhar, dormindo aos sábados, dormindo aos domingos, pagando minhas contas e saindo quando possível. Agora vou mudar a direção da bússola da minha vida para onde ela precisa estar, pois só se vive uma vez. Aproveite!

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